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Confronto do ano

Um jogo do naipe do que tivemos nesta quarta, em Porto Alegre, certamente só daqui uns 5 anos.

Não só pelos sete gols, pelo pênalti perdido, pelas bolas na trave, pelas defesas do goleiro santista no primeiro tempo. Grêmio e Santos foi grandioso como a história desses dois clubes.

Foi magistral como Renato; foi genial como Pelé; foi preciso como Pepe; foi decisivo como Jardel.

E só fez parte do confronto do ano no país: a semifinal da Copa do Brasil.

Alguns fatores extra-campo contribuiram para isso: o Olímpico lotado, com quase 50 mil pessoas apoiando as equipes; a motivação do convocado Robinho; a gana dos não-selecionados Victor e PH Ganso.

Em campo, foram dois tempos distintos, mas com muita qualidade futebolística.

No primeiro tempo, o que se viu foi um Grêmio abatido e perdido taticamente - com a improvisação de Hugo na ala esquerda e os três zagueiros marcando a distância os rápidos avançados da Vila.

Com esse panorama criado, André foi o primeiro destaque: fez 1-0 após escanteio da esquerda - contando com uma falha anormal do goleiro gremista - e ampliou o placar na sequência, depois de passe milimétrico do #10 de branco.

Aliás, o #10 de branco não era Pelé, mas foi protagonista de um lance na primeira etapa digo de tal alcunha: Ganso recebeu na área e, com Victor saindo a seus pés, tocou levemente a bola por cima do goleiro. A esfera, caprichosamente, beijou o travessão para completar o magistral lance, como de afirmasse que o bonito não é fazer o gol e sim acertar o local mais difícil na meta.

Com 0-2 no placar, Silas buscou consertar seu torto Grêmio em campo com uma realocação de peças: Hugo voltou a ser meia, Mário Fernandes foi jogar na lateral direita e Edílson, improvisado, foi parar do lado esquerdo do campo.

As mudanças surtiram efeito ainda antes do intervalo: William Magrão fez grande jogada pela esquerda e foi derrubado por Durval dentro da área. Porém, na cobrança do pênalti, Jonas bateu mal, no meio do gol, e Felipe defendeu com os pés.

Felipe, jovem goleiro santista que não passa o mesmo encantamento futebolístico que o trio ofensivo Ganso-Neymar-André, era outro dos destauqes do tempo inicial da peleja. Adílson e Borges já haviam parado no paredão da baixada santista antes da defesa do pênalti.

A torcida reclamava no estádio, o time não conseguia impor o ritmo de pressão que costumava fazer no Olímpico e o confronto parecia definido ainda que estivesse terminado somente a primeira parte das quatro que compõem um confronto de mata-mata.

Mas o futebol adoora aprontar das suas. E os deuses que o comandam pareceram trocar a chavezinha que controla quem daria espetáculo em campo para o segundo tempo...

E outro dos personagens da partida entrou em cena: Borges, o matador inapelável.

Quando nada parecia ter mudado, o #9 tricolor aproveitou a falha da zaga santista para descontar. Em seguida, Douglas roubou a bola no meio-campo e, após passar por Jonas, a jogada terminou com o bico da chuteira de Borges empurrando a bola pras redes.

O jogo estava empatado em dois lances fatais para um jogador do Santos: Rodrigo Mancha.

O volante entrara em campo para substituir Marquinhos e dar uma força maior de marcação ao time de São Paulo. Mas com ambas falhas dos gols gremistas indo parar na sua conta, Dorival Júnior foi rápido no gatilho e tirou o centro-médio de campo, proporcionando aos espectadores do jogo pela TV uma cena engraçada, mas também triste e lamentável: Mancha, visivelmente transtornado pelos ocorridos, balbuciava palavrões e chingamentos a si próprio enquanto socava o reservado dos visitantes.

Com o 2-2 no placar, já tínhamos um grandioso espetáculo em campo. Mas se Borges marcou, o outro membro da dupla infalível tricolor não poderia ficar apra trás. E Jonas fez isso em grande estilo: um chutaço da entrada da área, no ângulo de Felipe, para colocar o Grêmio na frente.

O Santos estava atordoado em campo. A torcida enlouquecia nas arquibancadas com a virada improvável. Silas agradecia aos céus o milagre em campo. Mas a dupla mais infernal do Brasil sacudiu as estruturas do Olímpico novamente. Jonas lançou Borges em condição legal. E o camisa #9 enquadrou o corpo antes de colocar no canto esquerdo de Felipe.

O 4-2 no placar era enganoso e cruel. Enganoso porque se falássemos em 5-5 não estaríamos diante de uma falácia. Cruel pois a bola jogada pelo Santos na primeira etapa não merecia dois gols de diferença contra si no placar.

E a justiça divida resolveu colocar mais emoção ainda para os 90 minutos finais dessa disputa com outra oubra prima de Paulo Henrique Ganso. O jovem paraense dominou em frente a área, sem espaços, e lançou com primor a bola no peito de Robinho, para este estufar as redes defendidas por Victor.

Sabe aquele jogo que todo mundo estava lá vendo, que todos guardam com carinho na memória? O Grêmio 4 x 3 Santos de ontem já entrou nesse roll de partidas memoráveis do futebol.

E olha que ainda faltam outros 90 minutos...

-x- Bruno Cassali