Este post não terá meu avatar mostrando o polegar simplesmente porque ele não merece. A vida arde de mais lá fora e às vezes a retina não agüenta. Faz tempo que venho segurado minha autocrítica, o que já tem gerado comentários negativos em relação a minha pessoa vindo de colegas que eu realmente prezo bastante. Mas há momentos em que as coisas explodem. Pois hoje, enquanto eu caminho pelo viaduto da Borges de Medeiros em Porto Alegre (cenário de propagandas consagradas de Zaffari& Bourbon entre muitas outras) meus olhos contemplam a deprimente cena cotidiana de um mendigo atirado aos trapos num canto da calçada. Ele sorri para um gibi detonado do Tio Patinhas que está aberto em suas mãos e virado de cabeça para baixo. “Ele não lê, apenas admira as figurinhas...” diz minha consciência “...como uma criança sonhadora!” completa ela ironicamente negra. Devo tirar uma foto disso, me pergunto. Não! Sigo meu caminho indiferente, mas lembrarei de comentar essa cena com mais alguém depois. Eu percorro agora a Otávio Rocha e chego ao meu destino. Preciso fazer uma foto de checking de campanha para um anunciante que comprou um frontlight na traseira de uma das bancas de revistas dessa rua. Mas há uma família escorada na traseira da banca, tapando a visão do anúncio. Eles estão mendigando ali. Há uma mãe (com uma criança de colo), uma outra senhora idosa e mais umas três crianças espalhadas pedindo dinheiro aos pedestres. A mãe amamenta a criança. Ta certo que é um tremendo golpe baixo ela usar um bebê pra estimular as pessoas a lhe dar esmola. Mas ela não tem onde deixa-lo, e talvez nem saiba direito o que faz; pois está apenas reproduzindo uma experiência que certa vez lhe proporcionou mais moedas no final do dia. Além do que, também é um tremendo absurdo termos mais dó de um cachorro esfomeado do que de um ser humano na mesma situação.
E nesse momento eu reparo na publicidade atrás deles. Danone Activia – com 0% de gordura. Humpf, engraçado... não tem nada a ver, mas nesse momento eu me lembro que metade do mundo quer emagrecer enquanto o resto não tem o que comer. Procuro a melhor abordagem para falar com eles. Consigo o que eu preciso e vou embora dali sem mais demoras.
No terminal de ônibus, esperando na fila, me surge um aleijado vendendo três pacotes de bala de goma a um real. Ele mal se sustenta em pé. Se arrasta entre um passageiro e outro babando enquanto oferece seu produto que possivelmente é sua única fonte de renda. A publicidade me diz que ninguém em sã consciência sacaria um real do bolso para lhe oferecer pelas balas. Mais provável que um doente qualquer saque uma arma do bolso e lhe meta bala pra amenizar seu sofrimento de anida continuar vivo amanhã.
Falar em aleijados me lembra como é engraçado o fato de que nosso país é governado por um homem que só tem quatro dedos, mas nossa política de emprego para deficientes físicos ainda é extremamente precária. Dá pra mudar a situação e não precisa que ninguém dê uma mãozinha pra ajudar... um dedinho já basta. Mas eu jamais meteria pau nos nossos competentíssimos políticos. Eles já têm muita coisa com o que se preocupar, afinal seria um alarde se a votação pra cassação de Renan Calheiros tivesse sido aberta.
Eles precisam esperar as investigações das comissões sobre as acusações que fazem entre si. Eles estão realmente muito ocupados no momento. Deixa assim, pois estão fazendo a parte deles. Sabemos que eles não têm nada a ver com isso e são tão vítimas como nós de uma tramóia muito maior que se esconde no verso da nossa idolatrada bandeira e que mal conseguimos identificar.
Eu me pergunto se a “tão sedenta de mudança” juventude é capaz de fazer alguma coisa. Eu faço parte dela e também tenho esse desejo que é tão permanente e duradouro quanto o maldito fone de ouvidos que penduro nas orelhas pra me manter alienado em meio a tudo isso.
O meu desconforto com a situação briga contra o meu conformismo, mas quem ganha mesmo é o meu cansaço. Cansaço de já não saber mais o que fazer. Cansaço da falta de alternativas. Cansaço da minha incapacidade de indentificar os verdadeiros responsáveis por tudo isso. Cansaço gerado pela pressão do dia-a-dia que exige tudo de mim pra que eu não termine como os retratos que eu citei (incluindo os políticos, que abandoram suas éticas - e a segurança de encontrar suas famílias vivas quando chegarem em casa - pela riqueza).
Então eu simplesmente escrevo (pois é o que mais tenho facilidade em fazer) na esperança de que alguém que por ventura leia possa ajudar a COMEÇAR A AGIR DE ALGUMA FORMA.
Mas não agora! Porque tudo isso pode esperar. O importante agora é descobrir quem matou a Taís.
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Retratos De Uma Retina Inflamada
quinta-feira, 27 de setembro de 2007 | Escrito por Fábio Fernandes às 02:00
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5 respostas:
AGIR. Quem tem a maior força em uma ação desse tipo é o coletivo. O coletivo pode tudo, derruba tiranos, cria uma nação.
Mas as "lideranças" destruiram o coletivo. Mexeram na educação, na cultura, removeram o coletivo e instituiram o individualismo como forma de ser pra dominarem mais fácil o povo. Nesse cenário, não há como agir sem resgatar o coletivo. A maneira de fazer isso eu não sei. E do jeito que vão as coisas, talvez eu nem venha a saber.
Pois é velhinho! Estamos sem coletivo!
O foda é que quem quer agir hoje, tipo nós, nos esbarramos nesse tipo de dificuldade. As pessoas se acomodam fácil demais. Não querem se expor, lutar por algo de direito delas. A democracia existe sim, só que não é como o povo pensa: ela precisa ser renovada a cada minuto. Eu amo aquele tempo dos caras-pintadas (do qual não participei por ser um embrião), dos movimentos de esquerda contra a ditadura! Reage juventude! Somos o futuro, e estamos deixando de ser isso. Somo agora, no presente, simplesmente o passado com caras-pintadas...
Post pesado, chocante e desconcertante. Diria que até um pouco desconexo da temática principal. Mas é um post válido se considerar o meio de comunicação que este blog representa. Aplaudo a atitude e me sinto mal pela veracidade das palvras.
adorei o blog.
valeu gente...
beijos a todos.
agora deixo o link certo..rs. bjs.
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